Ontem à noite assisti Homem Aranha. Fazia tempo que eu não dava uma descontraída e assistia filmes assim. Foi bem legal.
Mas como sempre, eu não consegui me desligar e fiquei analisando o roteiro, a construção das cenas, a fotografia e nisso, nessa análise constante, percebi algo que ainda não havia notado.
O Homem Aranha só é o que é porque vive em uma cidade com muitos prédios. Toda a sua aura misteriosa, suas benfeitorias e seus poderes só têm sentido em uma cidade como Nova York, com centenas de prédios. Não fosse isso, se ele morasse em uma cidade do interior com casas de no máximo três andares, seria muito mais útil que o super-herói fosse o Homem Cachorro, Homem Barata ou qualquer mistura com um animal/bicho/inseto urbano.
Até aí tudo bem. Mas fiquei observando para ver como ele utilizava os prédios e para minha surpresa são poucas as vezes que se vê no filme ele grudando a teia em um prédio. Dois momentos flagrantes em que podemos perceber isso ocorrem no final do filme:
- Peter Parker desce Mary Jane Watson com uma teia até um barco (isso tudo depois de derrotar o doutor Octopus). Mary Jane abraça seu namorado corno e olha para Peter Parker, que está no alto de um guindaste do porto de NY. Peter Parker põe sua máscara, dá um salto e joga sua teia aonde? Aonde? Em lugar nenhum! Não há nenhum prédio na volta. Ele está longe de tudo. E o que me resta imaginar foi que ele grudou a teia na parte superior do meu televisor (e do seu também).
- Mary Jane Watson foge do casamento pela manhã e chega no AP do Peter Parker à noite – atravessar a cidade com um vestido de noiva deve ser muito difícil mesmo, mas isso não vem ao caso – e ela está à porta do AP do mocinho. Ambos se declaram, um para o outro. Mas ao fundo ouve-se sirenes da polícia perseguindo algum bandido. Mary Jane diz: “pega eles, tigrão!”, e Peter vai. E em toda a cena que se segue, além de atravessar em meio às hélices dos helicópteros, ele gruda suas teias aonde? Me digam, vamos? Exatamente, nas laterais dos nossos televisores!
É por isso que eu digo: quando se trata de uma super produção não precisa fazer sentido mesmo!
E dizer tudo isto para quê? Para falar de Cannes, é obvio!
A algum tempo atrás vi em um videocast por aí alguns diretores de arte explicando porque estava cada vez mais difícil se ganhar um Cannes, porque o Brasil não conseguia. Eles explicaram que hoje em dia não basta só ter uma grande idéia, é preciso saber produzi-la e envolvê-la nos mais variados meios e tecnologias. Bobagem!
Suponhamos que a Publicidade seja o Homem Aranha e as grandes idéias criativas são os prédios. O Homem Aranha tem que grudar suas teias nos prédios (grandes idéias) para salvar o indefeso público alvo. Comparação tosca, mas é a verdade.
Se hoje em dia o conceito de grande campanha está ligado à superproduções como a do filme, a publicidade nada mais está fazendo do que grudar suas teias nas laterais da nossa TV. As grandes produções e diversas novas mídias tem se tornado um fim em si mesmas. Fazem ótimas campanhas online, filmes mais bem produzidos que Avatar, grandes investimentos, mas só. Sem idéia, sem alma, sem criatividade.
Acredito sim que todas as campanham devam ser bem produzidas e que tenham formas variadas de atingir o público alvo, mas a alma do nosso negócio, o que dá sentido à nossa profissão ainda é a grande idéia, a criatividade.
Por isso, mais uma vez acredito que os novos publicitários que estão entrando no mercado, nós, devemos ser os responsáveis por acreditar na super idéia, não na super produção.
Nós somos os Peters Parkers por detrás da publicidade, nós que salvaremos o público alvo. Essa é a nossa identidade secreta e essa é a nossa missão.
Abaixo está um vídeo que possui a super idéia. Se este vídeo fosse produzido a 30 anos atrás ou feito daqui a 30 anos não perderia seu impacto e poder. Esta é uma das características das grandes idéias, atemporalidade. E aposto contigo que não gastaram mais de milão pra fazer este filme!
sugestão do vídeo by http://blogcitario.blog.br/