Se formos analisar como se constitui a sociedade brasileira, veremos que ela é formada por várias gerações.
Temos a geração dos Anos de Chumbo, que lutou contra a ditadura nas décadas de sessenta e setenta. Temos também da famosa geração Coca-Cola, dos anos oitenta, que estava começando a aproveitar o fim da ditadura e que vivia um novo começo social brasileiro: as Diretas Já. Na década de 90 tivemos os Caras Pintadas, que ao meu ver, foi o último movimento organizado e significativo em prol do bem comum na sociedade.
E na publicidade, cada geração deixou a sua marca. Nizan Guanaes e Washington Olivetto marcaram os anos oitenta com o comercial dos Jeans Staroup. E não podemos esquecer do tio da Sukita, na década de noventa.
Depois disso, o que tivemos? Qual foi a geração que surgiu? Qual foi o grande comercial que marcou e falou sobre a nossa época?
Eu, do alto dos meus vinte e poucos anos, me considero da geração Autópsia do ET. Isso mesmo.
Faço parte de uma geração que teve sua infância assolada pelas reportagens sobre o ser extraterrestre. Era um suplício ter que assistir aquilo. Só de ouvir a vinheta do Fantástico já me dava arrepios. E tenho certeza que vocês hão de se lembrar que este tema foi apresentado exaustivamente. Não havia uma chamada para o próximo bloco que não aparecesse imagens do ET ali, deitado e pronto para a autópsia.
Maldita autópsia!
E a voz catacúmbica do Cid Moreira falando: “não percam, no próximo bloco, a Autópsia do ET, verdade ou mentiraaaaaa?”. Era cruel demais com as crianças!
Até que um dia, ao ver que a autópsia não causava mais tanto terror, surgiu o chupa-cabra. Bicho maldito! Mais um ser para nos meter medo.
E como se não bastasse tamanha crueldade com as crianças, surgiu o ET de Varginha. Pronto, agora nem mais em nosso próprio país latino americano estávamos a salvo! E eu achando que seres extraterrenos eram luxo apenas dos países mais desenvolvidos.
Mas enfim, sou de uma geração afetada pelo medo. E pelo Fantástico. Sou da geração Autópsia do ET.
E como isto afeta a publicidade? Ora, eu, assim como todos os publicitários da minha idade, devemos compreender que cada geração tem uma visão de mundo diferente. Tem valores e princípios que mudam com o passar dos anos. E que isso influencia diretamente na maneira de comunicar com nosso público alvo.
Temos nossa própria linguagem. Temos nossos próprios jargões e costumes.
A partir de agora, como a futura geração de publicitários dominantes no mercado, devemos ter a preocupação de falar do que sabemos e somos para a nossa geração, que será a futura geração dominante de consumidores.
É nossa missão recriar e moldar a publicidade para a nossa geração. Falar na nossa língua sobre as coisas que vivemos. Devemos ser gratos pelos caminhos já abertos pelos que vieram antes de nós, mas agora devemos construir a nossa própria jornada.
E viva a nossa geração!